Resenha de Amor ao Primeiro Toque

terça-feira, 7 de maio de 2013

Texto original: Amor ao Primeiro Toque
Autor: Kevin
Classificação: Livre
Gêneros: Comédia, Romance
Estilo: One-shot
Status: Completa

Minha Resenha: Amor, só que não

Uma montanha russa de emoções e sentimentos, causando vertigem ao leitor.

Os personagens de "Amor ao Primeiro Toque" passeiam por extremos, desde a indiferença, o desprezo, passando pela antipatia, medo, piedade... até ao
"amor" já revelado no título e pelo qual esperamos que aconteça.

Tal jornada, ocorrida em talvez uma dezena de minutos cronológicos, menos ainda ao olhar de um leitor rápido, me lembrou certos cantores líricos, muito elogiados por serem capazes de variar de uma nota alta para uma outra muito baixa, ou vice-versa. A diferença é que na música, o resultado é agradável e bem construído. 

Não fui capaz de reconhecer a honestidade nesses personagens, a menos que eu leia o conto como uma comédia pastelão. Impossível perdoar a grosseria do balconista e acreditar em sua repentina preocupação. É um hipócrita! Um falso moralista! O fato da garota ser cega fez com que ela fosse mais merecedora de sua atenção? Pobre diaba, é uma cega. Vamos fingir que sou uma pessoa educada e gentil. Vamos brincar de ser atencioso.

Não! Até que fosse arrancado de seu mundo-comum, ele demonstrou muito bem quem ele é! Pobre Ana, só conhecerá o rabugento que vimos depois do casamento, quando for tarde demais.

Depois de se fazer de santo, aparentemente movido por uma consciência que alimenta o coitadismo, o personagem descobre que a coitada está ferida. Fica atordoado. Além de cega, está sangrando. Oh, agora se parece com uma real preocupação. Será que existe um bom ser humano por trás do nosso rapaz? 

Ele repentinamente a carrega! E leva pontapés. Bem-feito, deu de cara com uma doidivanas, que esperneia e grita como uma garota de cinco anos, ou como uma vítima de sequestro. Mas ele se esforça, eu acho. Cuidou da ferida da moça. Os dois passam então nessa montanha russa de emoções, da confusão, antipatia e pontapés, ao tão esperado "toque". E não é que os dois gostaram mesmo desse toque? É aí que tudo desanda de vez. A macies da pele. Oh, a candura. A leveza e a suavidade. Acho que quase tiveram um orgasmo.

E nada mais.

Nada mais! Não houve nada na experiência que o rapaz não pudesse ter obtido com qualquer outra garota delicada de pele macia. O que me faz pensar que ou o rapaz jamais havia tocado uma menina, ou seu amor é tão raso a ponto de se entregar à superficialidade de uma volátil sensação tátil - que embora possa ser muito forte e deliciosa, fica difícil entender como se ousou definir tal experiência por "amor". Não é que o amor seja algo lógico ou tenha seus pré-requisitos estabelecidos. É que eu teria cuidado se fosse Ana: qualquer pele macia pode arrebatar o coração do rapaz.

Me apeguei a esse ponto central da narrativa por dois motivos. Primeiro, embora a premissa do "amor ao primeiro toque" seja boa, ela não se justifica se for o toque pelo toque, o trivial, o comum, o ordinário, que pode ser encontrado em qualquer bar, qualquer padaria, qualquer ônibus, qualquer puteiro. Digo que nosso jovem não se apaixonou por Ana, mas por todas as mulheres de toque macio e suave - acentuado por sua pena pelo fato de ser uma cega. Ana não é especial. Não tem nada único que tenha arrebatado aquele coração rabugento e impaciente. Tanto é verdade que nenhum leitor minimamente exigente se importaria com ela. Nem com ele.

Perdoe-me se sou exigente com o amor. É que hoje em dia conhecemos alguém pelo chat do facebook, que nos diz palavras bonitas, e já pensamos que amamos para sempre. Não, não é amor. É um vírus social chamado carência, que atua e se espalha pelas células da afetividade gratuita e emoticons de coraçõezinhos. Seria este conto um reflexo de nossos dias, em que o amor nada mais é do que TESÃO e SENSUALIDADE? Este, aliás, é o segundo motivo.

{Ps: Sensualidade: relativo ao sensorial, aos sentidos}

Não falarei do estilo, porque não tem um que valha muito a pena comentar. Me parece que o autor não estava caminhando por ruas conhecidas, não creio que esse gênero e tentativa de estilo seja o natural do autor. Recomendo que busque outros.

Quanto ao ritmo, é apressado no cerne da história, onde deveria construir algo pacientemente, e arrastado nas gorduras e elementos que roubam a objetividade do conto.

Para não ser injusta, devo dizer que a floricultura foi uma grande sacada. Ou melhor, a lanchonete metamorfa. Foi um jogo com a visão, a realidade, a fantasia, olfato... que deveria ter sido bem melhor aproveitada, mas ainda assim cumpriu seu papel. Se é que entendi certo, pois outras pessoas ficaram confusas. 

Houve erros indigestos, como tempos verbais trocados, formatação feia, repetições, entre outros. Mas todos eles são facilmente remediados, caso a essência do conto fosse resgatável. Tenho dúvidas quanto a isso, a menos que o autor se disponha a reescrever tudo.

Por fim, a impressão geral é que o conto, visando acertadamente ser um retrato rápido e ligeiro, acabou contaminando o autor, que ligeiro e rápido no ato, cometeu desleixo. Uma pena. A premissa era mesmo boa...


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Eu decidi começar a postar minhas resenhas de fics postadas no Nyah aqui no blog. Não foi fácil decidir isso porque minhas resenhas costumam ser bem pessoais, e dirigidas aos autores e alguns amigos e conhecidos. No caso dessas que vou postar primeiro, foram feitas para um projeto da Liga dos Betas do Nyah, no qual os betas fazem resenhas de textos uns dos outros.

Como podem ver, resenha é bem diferente de betagem. Aqui eu tento não só ajudar o autor em algo, mas mostro a ele os efeitos que o texto me causou, meu envolvimento com a história, os personagens, com a ideia, enfim, como eu interpreto e minhas reflexões posteriores sobre o que li.

Gosto de resenhar logo após a leitura para aproveitar o "frescor" dos efeitos causados em mim. Isso às vezes atrapalha, pois preciso de um certo tempo para digerir, refletir, e às vezes tempo não sobra. Mas eu me esforço.

Também postarei resenhas de textos que não me agradaram muito. E o normal será resenhar oneshots.

É isso, espero que gostem e aproveitem essa nova categoria de posts no blog e curtam os textos resenhados, também.





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